Kpop 101: Entenda o fenômeno e ouça o que bombou em 2016

Eis que, em 2012, um coreano gordinho, fazendo uma dancinha engraçada e cantando um refrão pegajoso numa outra língua, ficou famoso. Bom, “famoso” pra ele talvez seja eufemismo, já que o seu vídeo foi o primeiro do Youtube a atingir a impressionante marca dos um bilhão – e até dois bilhões – de views. PSY, um rapper sul coreano – sim, ele pode não ter o estilo dos rappers ocidentais mais famosinhos, mas é classificado como um na Coreia – que era aparentemente desconhecido para a maioria, faz parte de um fenômeno que cresce não somente na Coreia e na Ásia, e sim em todo o mundo: estamos diante do magnífico mundo do KPOP.

O ‘K’ de Korea no nome já deixa claro que não é o pop comum. Asiáticos bem maquiados e vestidos, geralmente em grupos, dançam coreografias perfeitamente sincronizadas e cantam músicas em coreano com palavras em inglês jogadas pelo meio – geralmente no refrão -, formando um estilo que mistura pop com eletrônico e hip hop. O kpop é uma das vertentes da chamada “Onda Hallyu”, que pretende expandir a cultura coreana para o mundo; outro ponto forte dessa onda são os dramas (doramas ou novelas coreanas) que, de tão populares, já tem até vários no Netflix. Numa indústria que hoje já é muito subsidiada pelo próprio governo da Coreia do Sul, artistas completos apresentam perfeição para o seu público, que só tende a se tornar cada vez maior.  

 

As Wonder Girls em foto promocional do ótimo single de 2016, “Why So Lonely?”

 

O fenômeno também se espalha em terras brasileiras, e vai muito além dos ótimos fãs/covers que ensaiam no CCSP. O Twitter brasileiro dificilmente fica 24 horas sem ao menos uma tag de Kpop nos trending topics e reactions a MVs (music video, como são chamados os clips) de Kpop atingiram youtubers grandes como Luba e Felipe Neto – este, inclusive, possui um quadro em seu canal só para isso, o que está gerando polêmica e dividindo os kpoppers: há quem ame por ele está popularizando o estilo, mas há quem reclame e ache que ele só está reforçando estereótipos errados sobre o gênero. Shows desse estilo no Brasil começaram a se tornar mais comuns em 2014, quando o Music Bank, um festival coreano, trouxe ao Rio de Janeiro grandes grupos como SHINee, B.A.P, INFINITE e MBLAQ, dentre outros. Em 2015, o grupo BTS (sigla para BangTan Sonyeondan, “Escoteiros à prova de balas”, em tradução livre) colocou cerca de 5 mil fãs no Espaço das Américas, em São Paulo; já em 2017, os 14 mil ingressos para as duas apresentações, que serão no Citibank Hall em março, esgotaram em questão de horas – e há quem diga minutos. A venda para os ingressos desse show gerou uma comoção no Twitter, com fãs reclamando pela falta de organização da empresa Tickets For Fun e pedindo um local maior para a apresentação: nada mais nada menos que o Allianz Park, com capacidade para 55 mil pessoas, foi um dos mais requisitados. A tag #tf4RespectArmy  (Army é o nome do fandom do BTS) chegou aos trending topics mundiais e foi até notícia do famoso allkpop, um dos maiores sites especializados em notícias e reviews do gênero – apesar de, às vezes, noticiar muita fofoca e fatos irrelevantes -, só provando a popularidade do grupo no país. Não foi surpresa pra ninguém a revista Todateen  aparecer com pôster e até capa com o BTS.

Depois desse pequeno panorama geral – esse mundo é vasto e repleto de aspectos e curiosidades que valem a pena serem descobertos por cada um -, vamos ao mais importante: a música. A maioria das pessoas têm uma impressão errada do Kpop: julgam pelos grupos formados por vários “japas iguais” – estereótipo comum no ocidente – ou pelos cabelos coloridos dos membros, achando que é algo “bizarro”, muito diferente do pop ocidental, o que definitivamente não é. Arrisco dizer que, para os não fluentes em inglês ou coreano, ouvir uma música de pop e uma de Kpop pode não fazer diferença alguma. Para os interessados em adentrar nesse mundo novo, mas nem tão diferente assim, aqui vão dez músicas de 2016 que podem ser a sua porta de entrada nesse universo de idols, fandoms e fics (só lembrando que essa lista não é por ordem de melhor ou pior, não é nem o meu top 10 do ano passado, são apenas 10 músicas que fizeram sucesso na Coreia em 2016 e eu recomendo para quem quiser conhecer o estilo – principalmente a número um, que ainda está no modo repeat da minha playlist):

 

10º: DΞAN Bonnie & Clyde

Começando a lista por um cara que não canta em grupo, não dança e não possui o cabelo colorido só para quebrar um pouco o estereótipo. Dean, que ultimamente tem sido chamado de “Príncipe do R&B asiático”, já cantou nos EUA e teve seu debut (estreia) na Coreia em 2016 com o EP 130 Mood: TRBL. Apesar de muitos nem o enquadrarem dentro do Kpop, sendo associado mais aos cantores/rappers solista de lá, ele fez colaborações com grandes nomes da indústria e está crescendo nesse cenário coreano. Uma boa pra quem gosta de uma mistura melódica, calma e com um belo vocal:

 

9º: GOT7 – Hard Carry  

Apesar do meu comeback (nomenclatura para quando um artista/grupo de kpop retorna com um single ou álbum novo) favorito do Got7 em 2016 ser “Fly”, “Hard Carry” foi a farofinha pop/eletrônica que faltava na discografia deles. Com uma coreografia bem elaborada e um MV cheio de subentendidos para as fãs pirarem nas teorias – com direito a pessoas voando e se afogando -, é uma boa pra quem curte ouvir uma música mais animadinho.

 

8º: BLACKPINK – Whistle

O novo quarteto da indústria, que estourou já no seu debut em 2016, lançou durante o ano quatro singles totalmente diferentes, mas, com certeza, o mais icônico foi “Whistle”. Com um ritmo único – que inclui os “assobios” do título – e uma coreografia difícil e levemente sensual, essa música fez todo mundo ficar com “Make’ em whistle like a missile bomb, bomb/ Every time I show up, blow up, uh” na cabeça. O ótimo MV conceitual, que foca nas integrantes, não mostra tanto a coreografia, mas você pode conferi-la completa aqui.

 

7º: EXO – Lotto

O segundo comeback de um dos grupos mais populares da Coréia, que vinha do sucesso da destruidora “Monster”, sofreu alguns imprevistos: um dos integrantes estava machucado e o grupo teve que se apresentar desfalcado; algumas emissoras coreanas baniram a música pelo termo “Lotto”, que se refere a loteria, e eles tiveram que mudar o nome e a letra da canção pra “Louder” para poderem se apresentar nos programas desses canais; a música dividiu até mesmo a opinião dos Exo-L (nome do fandom do Exo), pois vários reclamaram que com a grande quantidade de auto tune não dava pra ouvir direito a voz dos membros, mas teve quem gostou, achando que combinou com o conceito adotado; e, além de tudo, um dos integrantes contraiu uma infecção no olho durante as promoções da música, tendo que se apresentar de óculos escuros. Mas, nada disso impediu que “Lotto” ficasse no top dos charts.

 

6º: GFRIEND – Rough

As meninas do GFRIEND já vinham chamando a atenção pelo seu conceito colegial fofo e pelas coreografias super elaboradas, mas “Rough” veio depois de um single que deu o que falar por um motivo não muito bom: em uma apresentação ao vivo de “Me Gustas Tu”, música anterior delas, pelo palco estar molhado e escorregadio após uma chuva, as integrantes caíram diversas vezes durante a performance – uma delas, a Yuju, caiu CINCO vezes! Mesmo assim, elas continuaram a dançar e fizeram a apresentação até o final, demonstrando grande profissionalismo. Não deu outra: o vídeo viralizou e acabou aumentando muito a venda da música e a colocação dela nos charts coreanos. Com “Rough”, o primeiro comeback após o incidente, o GFRIEND trouxe o conceito colegial para o inverno com um ar dramático/épico que valorizou ainda mais a bela coreografia. Estouraram e ganharam merecidamente diversos prêmios.

 

5º: SEVENTEEN – Boom Boom

Com uma música melhor que a outra em 2016, o grupo de 13 membros – sim, eram 17, como sugere o nome, mas quatro saíram e eles já estrearam com “apenas” treze – teve um ano de sucessos e prêmios. Foi difícil escolher qual a melhor deles, mas, por “Boom Boom” ser a title song do excelente álbum Going Seventeen – não é a melhor do álbum, fico entre “Don’t Listen In Secret” e “Fast Pace” – escolhi ela pra por na lista. Já vale a pena conferir “Boom Boom” por causa da coreografia bem intensa e sincronizada, que fica ainda mais bonita por eles serem muitos, então vou colocar aqui o vídeo da versão espelhada da coreografia, pra quem quiser arriscar uns passinhos.

 

4º: TWICE – Cheer Up

Então, vamos à música do ano para todas as premiações coreanas de 2016. Apesar de eu gostar mais do segundo comeback delas, “TT” – melhor conceito halloween fofo que você respeita -, é fato que “Cheer Up” fez muito impacto no cenário do Kpop ano passado. Não só pelas vendas estrondosas, mas porque não há ninguém na Coreia que não tenha ouvido “shy shy shy” na voz da Sana – e a maioria tentou imitar que a gente sabe. Até idols de outras empresas concorrentes fizeram cover dessa música, alguns até incluindo-a em seus próprios shows! Com um refrão chiclete, uma coreografia simples e um MV belíssimo que cria um conceito diferente para cada uma das nove integrantes, essa foi simplesmente a receita do sucesso.

 

3º: WINNER – Sentimental

Tá, vamos dar uma pausa nos sucessos e falar das INJUSTIÇAS do ano. WINNER, pra ironia do nome destino, com certeza, é um dos grupos mais subestimados da Coreia. Apesar de serem de uma empresa grande e poderosa – a YG Entertainment -, a trajetória deles é marcada por poucos lançamentos e muito tempo na “geladeira” – vulgo sem lançar nada. O comeback no início de 2016, com o excelente mini álbum Exit: E – destaque para o dueto “Pricked”, melhor música do álbum -, foi o flop que eles NÃO precisavam, pois voltaram pra geladeira o resto do ano inteiro, foram simplesmente ignorados por todas as premiações e ainda perderam um integrante do grupo no fim do ano – Taehyun, vocalista principal, o loiro no MV abaixo. Nem vou me estender nas polêmicas e boatos que rolaram – como o de que a empresa estava oferecendo um DVD gratuito do BigBang, outro grupo da mesma agência, só que bem mais famoso, para quem comprasse ingresso pro show do WINNER – porque vamos focar em “Sentimental”: um excelente número pop/rock/indie/conceitual com um dos melhores MVs do ano, que incorpora os versos “eu só fico olhando o teto” para gerar um clip todo filmado de cima, com cada um dos membros sofrendo sua bad de um jeito. Divertido, relaxante, genial, vale muito conferir.

 

2º: BTS – Blood Sweat & Tears

Podemos dizer que 2016 foi o ano deles. Falou em kpop e popularidade, instantaneamente falou em BTS. Com o álbum Wings e a title song “Blood Sweat & Tears”, eles ficaram no topo dos charts do iTunes em 27 países – incluindo os EUA e o Brasil – e na Billboard 200 por duas semanas seguidas. O MV chegou a quase sete milhões de views no Youtube em 24 horas, números que coincidem com sucessos de artistas ocidentais famosos. O êxito foi tanto que eles ganharam prêmios como “artista do ano” e “álbum do ano” nas premiações coreanas, algo raro de acontecer com grupos que não são da Big 3 – as três empresas que lideram a indústria do Kpop, SM, YG e JYP – como eles. “Blood Sweat & Tears” incorpora ritmos caribenhos e uma coreografia complexa e sensual pra trazer um single dramático e viciante. Com certeza, os Armys brasileiros chorarão ao ver essa performance ao vivo nos dias 19 e 20 de março.

 

1º: BIGBANG – Fxxk It

O último comeback dos REIS antes do hiato do grupo – um dos integrantes foi para o alistamento militar agora em fevereiro, e os outros irão nos anos seguintes, lembrando que na Coreia servir ao exército durante dois anos é obrigatório – saiu em dezembro pra fechar 2016 com chave de ouro. Concluindo o álbum MADE, que teve oito de suas músicas lançadas em 2015, as três inéditas de 2016 foram os presentes pros fãs que já acompanham o grupo há 10 anos e ficarão órfãos por um tempo. Acertando em não tentar criar outra “BangBangBang” – farofa deles que ganhou “música do ano” nas principais premiações coreanas em 2015 -, “Fxxk It” é um hip hop eletrônico despretensioso que traz um MV zueiro e divertido típico do BigBang. Que eles vão e voltem logo, todos os V.I.Ps – nome do fandom deles – já estão contando os dias.

Ouça esses e outros sucessos de 2016 na nossa playlist!

3 comentários sobre “Kpop 101: Entenda o fenômeno e ouça o que bombou em 2016

  1. Oi Ingrid, primeiramente muito legal ver sobre kpop aqui. Gostei de muitas músicas em 2016 incluindo Fxxk It, Rough, o álbum da Lee Hi(já ouviu?), Body do Mino, Why So Lonely e muitas outras.
    Só um adendo.. referente ao WINNER tanto a questão do tal dvd do Big Bang quanto o flop não são infos verdadeiras(até porque Sentimental foi uma das músicas que mais faturou no primeiro semestre). Ambos já foram desmentidos e foi mostrado que até um grupo de pessoas se juntou pra espalhar esses rumores, enfim, como fã do grupo achei melhor explicar porque nem todos são cientes disso.

    Beijos

    1. Oi, Pat, tudo bem? Obrigada por comentar! E sim, também amei Mobb, o álbum da Lee Hi e muitas outras coisas, mas infelizmente não cabe tudo na lista… Teria que fazer um top 100 pra tentar colocar tudo hahaha
      E, quanto ao WINNER, primeiramente peço desculpas se algo que eu escrevi lhe ofendeu, eu também sou Inner Circle e amo muito o WINNER! Eu pesquisei bastante pra escrever o post, tanto fontes oficias da própria YG, quanto fóruns e blogs da internet, e não achei nada que afirmasse com certeza que essas infos eram falsas. Também não achei nada que confirmasse que eram verdadeiras, por isso coloquei “boatos”. Resolvi por a polêmica – sendo ela verdadeira ou não – no texto porque vejo como algo relevante, já que, querendo ou não, isso influenciou no restante do ano do WINNER. Por muito tempo fui YG Stan fiel, mas me decepcionei muito com a empresa e não duvido que ela possa ter feito esse tipo de coisa. Aqui também entramos no conceito de flop. O “Exit Movement”, na real, era um projeto que englobaria o ano inteiro de promoções, com 4 mini albuns (Exit:E,X,I e T). Mas, infelizmente, o Exit:E não alcançou os resultados desejados: ‘Sentimental’ só ganhou um prêmio nos programas de variedade (em um M!Countdown), e, apesar de ficar inicialmente bem colocada nos charts, caiu muito rápido. De repente, todo o “Exit Movement” foi cancelado e Mobb foi anunciado. Com a saída do Taehyun (eterno bias), a YG falou que tudo foi cancelado por conta dos problemas de saúde dele, mas é muito fácil colocar a culpa por um ano inteiro perdido em alguém que acabou de sair, né? Não que eu duvide que o Tae tenha tido problemas, desde o WIN ficou claro que ele não aguentava a pressão desproporcional da YG, mas eu, sinceramente, não acredito totalmente em nada que a YG diga. E ainda acho que o ano foi como foi por causa do “flop”. Aliás, mudando um pouco de assunto mas é um exemplo que podemos relacionar, o próprio Mino falou que Mobb não faria um comeback porque eles não foram bem nos charts e o CEO Yang Hyun-Suk não ficou satisfeito com aquilo. Muito provavelmente esse também foi o caso do WINNER.
      Enfim, espero que o comeback próximo seja um sucesso e que vejamos muito mais WINNER esse ano! Obrigada novamente pelos toque, para um próximo post pesquisarei ainda meis as informações!

      Bjos

  2. Está maravilhoso o debut dessa Ingrid <3 Será que sou biased? Hahaha

    Apesar de certas colocações suspeitas (A SM Stan em mim não se cala), tá ótimo e bem de acordo com o que realmente foi hit ano passado. Sim, fica difícil perdoar a Coreia por fazer "Xarope, Baby" um hit, mas fazer o quê. Podia ser pior, podia ser balada E, pelo menos no seu Top 10, WINNER teve algum reconhecimento. PARABÉNS WINNER <3 Hahaha

    E você, que nunca ouviu Kpop mas veio parar nesse post de alguma forma, tá aqui um ótimo jeito de começar

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