Não sei exatamente há quanto tempo eu ouço Bob Dylan. Posso ser mais precisa com o tempo no momento em que Bob Dylan deixou de ser aquele cara que eu ouvia às vezes para ser o maior-e-melhor-artista-de-todos-os-tempos. Foi logo depois da minha fase Beatles mais pesada, no meio de Ensino Médio, entre os anos obscuros que foram 2009-2011.
Lá pelos meus 15 anos, não sabia direito o que era ser fangirl, mas eu já era. Na verdade, acho que sempre fui. Quando gostava de alguma coisa – fosse um livro, um filme, um artista, um desenho animado –, nada me bastava: eu precisava ver/ouvir/ler inúmeras vezes seguidas, precisava saber tudo sobre aquilo, tinha sonhos sobre, inventava brincadeiras temáticas. Lembro até hoje que eu e mais duas amigas costumávamos brincar de Senhor dos Anéis; nós nos alternávamos entre Arwen, Éowyn e Galadriel e seus respectivos “namorados” imaginários, que eram Aragorn, Faramir e Legolas.
Com Bob Dylan foi quase a mesma história. Eu já conhecia, já gostava, mas de repente era só o que eu conseguia ouvir. Era nele que eu pensava o tempo todo, tinha uma pasta no meu computador só com fotos dele que passava horas caçando pela internet, era nele em que eu espelhava todos os meus crushes e por aí vai. Por muito tempo era Bob Dylan o que eu pensava, falava, respirava e consumia. Li todas as biografias existentes, assisti todos os filmes sobre ele e com ele. Ouvir Bob Dylan para mim é como retornar para casa, me traz a sensação de segurança, de pertencimento, é o meu lugar seguro. Quando tive a oportunidade de vê-lo ao vivo num show, em 2012, chorei do início ao fim (e dias antes e por muito tempo depois). Nunca irei esquecer da sensação de ter o mundo querendo sair de mim, desde o estômago até a garganta, mas toda vez que tentava abrir a boca, para falar alguma coisa, para cantar junto, não conseguia. Só era possível chorar. É indescritível o sentimento de ver o ídolo ao vivo.
Dylan já foi acusado inúmeras vezes de ser controverso. Já ele compôs um verso em certo momento e vinte três anos depois compôs outro desdizendo aquele primeiro, já que falou alguma coisa numa entrevista que era o contrário que tinha dito antes. Dylan já tirou sarro de repórteres, já se escondeu dos paparazzi, já fingiu não ser Bob Dylan, já parou de fazer shows, já até disse que foi transfigurado e se tornou uma outra pessoa. Dylan certamente já disse muitas coisas, mas acho que apenas uma coisa que ele disse vale a pena guardar: “Eu sou um mistério apenas para aqueles que não sentiram as mesmas coisas que senti.”
Apesar de amar ler as entrevistas feitas com Dylan – ele certamente tem um senso de humor bem irônico e afiado –, não dá para levar muito a sério tudo o que ele solta por aí. Sendo assim, prefiro ficar com seu trabalho. É ali que Dylan é Dylan, é ali que ele é mais verdadeiro, com ele mesmo e com seu público. Acho que se ele pudesse, daria entrevistas apenas cantando suas músicas e seria maravilhoso, até porque são elas que importam.
Por ter toda essa história de amor com Bob Dylan, posso dizer que me considero uma especialista em Dylan. Já até o citei em alguns trabalhos da faculdade, e a minha pesquisa de iniciação científica pode não ser sobre ele, mas foi totalmente motivada por ele. Enfim, estou aqui para apresentar para o resto do mundo uma pessoa que amo muito, que me acompanhou por muitos momentos da minha vida e que estará comigo para sempre. Por mais que tudo mude – até eu –, tenho a certeza de que ele sempre estará do meu lado. Estou aqui para apresentar Bob Dylan, e é um imenso prazer conhecê-lo.
Para isso, resolvi montar uma playlist, que segue algumasregras básicas:
1ª: Tentar abarcar TODA a obra de Dylan, até aqueles álbuns que ninguém conhece e aqueles que todo mundo finge que não existem (o que não é uma tarefa fácil, porque senhor Dylan já lançou 36 álbuns só de estúdio e continua fazendo mais!).
2ª: Tentar não focar demais em um período só; Dylan possui muitas fases e é bem fácil preferir uma à outra. Mas o grande ponto dessa playlist é que não é uma playlist para mim, apesar de ser feita por mim, então fui o mais imparcial possível.
3ª: Ouvir todos os álbuns de Dylan (tem que ouvir, né).
4ª: Escolher apenas músicas que foram lançadas oficialmente em álbuns e não em bootlegs. Apesar de ter colocado algumas versões ao vivo, todas as músicas foram lançadas nos álbuns oficiais de estúdio.
Sem mais delongas, vamos lá:
LADIES AND GETLEMAN, BOB DYLAN: 1962-1964
Com 20 anos e recém chegado em Nova York, o jovem Bob começou a frequentar a cena folk de Greenwich Village se apresentando em cafés e passando o chapéu para receber algum dinheiro. Dylan tinha muitas ambições e também inspirações. Quando descobriu que seu ídolo, Woody Guthrie, estava internado em um hospital em Nova Jersey, decidiu que era preciso ir até lá e visitá-lo. Foram alguns meses de visitas frequentes, em que o aprendiz cantava para seu mestre. Bob ficara conhecido em seu círculo como um grande fã de Guthrie, ele havia imitado e interiorizado seu jeito de cantar e seu jeito de tocar o violão. Poucos têm a oportunidade de conhecer seus ídolos e Bob foi um desses sortudos. Isso aconteceu logo antes de conseguir um contrato com a gravadora Columbia Records, que foi o primeiro passo para se tornar o Dylan que hoje conhecemos. Sobre seus encontros com Guthrie, Bob escreveu a música “Song to Woody”, uma das únicas canções autorais que gravou em seu primeiro álbum, quase como um rito de passagem, para deixar de ser o fã e conseguir superar seu ídolo e ir além dele. Acho legal esse diálogo entre fã e ídolo; mesmo que a conversa não se dê efetivamente, como Bob e Woody Guthrie, Dylan foi meu interlocutor por tantos momentos da minha vida que sinto como se pudéssemos nos entender.
É também nessa primeira fase que Dylan se aproxima – muito influenciado pela sua namorada da época, Suze Rotolo – de movimentos políticos. A década de 1960 nos EUA (e no restante do mundo) é marcada com importantes momentos políticos e sociais, como a marcha pelos direitos civis, liderada por Martin Luther King, a ascensão do movimento negro exigindo igualdade de direitos, o assassinato de Luther King e do presidente Kennedy, a Guerra do Vietnã e a Guerra Fria. É nesse contexto que Dylan conquista muito espaço e reconhecimento entre jovens politizados e se torna uma espécie de porta-voz de seus valores. “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” é sobre isso; escrita logo após a crise dos mísseis em Cuba em 1962, nela Bob discorre sobre o medo da possibilidade de a qualquer momento explodir uma nova guerra. Sobre a canção ele diz: “cada verso em si é, na verdade, o início de uma canção inteira. Pensei que não teria tempo suficiente em uma vida para escrever todas essas canções, então coloquei tudo o que pude nessa única” – mal sabia ele que teria mais de 50 anos de carreira para escrever todas as suas canções. Essa também foi a canção que influenciou Leonard Cohen a compor. A também política “The Lonesome Death of Hattie Carroll” é uma das várias canções de Bob que foram tiradas de uma notícia de jornal. É sobre uma mulher negra assassinada pelo filho branco de um importante proprietário de terras da região de Maryland. É uma música poderosa e continuou no repertório de Dylan por muitos anos, tanto que prefiro uma versão ao vivo da turnê de 1975, que foi revisitada e ganhou novos arranjos. Essa é uma prática muito comum de Dylan, continuar a tocar músicas antigas, mas de formas sempre diferentes.
Apesar de ter sido colocado no papel de porta-voz da juventude politizada, Dylan nunca reivindicou esse papel. É claro que ele escreveu canções que tinham esse conteúdo, mas não só, como podemos ver em“Corina, Corina”. Essa composição se distancia de outras canções de seu trabalho até então e mostra um Dylan mais aberto para outras sonoridades, que ele irá explorar alguns anos mais tarde.
I’M YOUNGER THAN THAT NOW: 1965-1966
O começo da segunda metade da década de 1960 foi abalada pela escolha de Dylan por usar instrumentos elétricos. Pode parecer bobagem hoje, mas na época foi um problema sério. Assim como aqui no Brasil, lá em 1967, tivemos a Passeata Contra a Guitarra Elétrica – o movimento folk não aceitou o queridinho Bob Dylan trocar seu violão pela guitarra e a solidão nos palcos pela companhia de uma banda de rock. Foram muitas vaias, xingamentos de “Judas”, tentativas de cortar os fios dos aparelhos e silenciar seus shows, mas nada disso impediu Dylan de continuar com sua música da maneira que ele queria.
Essa é a fase na qual Dylan fica mundialmente famoso, faz turnês pela Europa, grava três grandes álbuns em apenas dois anos. É quando ele termina seu namoro de quase três anos com Suze Rotolo e logo depois se casa secretamente com Sara Lownds (ou Sara Dylan). É quando ele conhece os Beatles, quando seus cabelos encaracolados e bagunçados e seus óculos escuros moldam a silhueta que será para sempre sua marca registrada. É nessa fase que Dylan se afasta do folk para se tornar o bardo, o trovador, que ganha até prêmios Nobel de literatura. As suas composições se assemelham mais a poemas do que a notícias de jornal, e as referências literárias também aumentam, como no caso de “Love Minus Zero/No Limit”, que faz uma referência ao clássico “O Corvo” de Edgar Allan Poe: “My love she’s like some raven/ At my window with a broken wing.” Ou em “Visions of Johanna”, cheia de assonâncias e aliterações que são quase declamadas pela voz anasalada e um pouco fanha de Dylan.
BOY FROM THE NORTH COUNTRY: 1967-1974
No final de 1966, Dylan sofreu um acidente de moto. O acidente não foi grave e ele logo se recuperou, mas por causa da persona misteriosa que Dylan criou para si e o sensacionalismo da mídia, o acidente tomou proporções gigantescas e ninguém até hoje sabe muito bem o que aconteceu. Por outro lado, o acidente deu uma boa desculpa para Dylan cancelar sua próxima turnê e ficar recluso por um tempo, só com sua mulher e filhos. Nos anos afastados, Dylan parou de fumar, compôs como nunca e teve muitos, muitos filhos. Os álbuns que seguem Blonde on Blonde, de 1966, não poderiam ser mais diferentes do anterior, de volta para sonoridades mais próximas das raízes da cultura popular americana e do folk.
O Dylan elétrico e amigo dos Beatles de alguns anos antes se transforma completamente em pai de família um tanto careta. Parar de fumar mudou a sua voz completamente: de anasalada e estridente, ela se transforma em aveludada e suave, como é possível ouvir em “I Threw It All Away” e “Dirge”. O retorno para as raízes americanas o aproximou de Johnny Cash, com quem teve uma amizade duradoura. A versão de “Girl From The North Country” de 1969 pode parecer um tanto improvisada, mas é incrível ouvir duas vozes tão poderosas cantando juntas, mesmo que um pouco dessincronizadas.
LIKE A BIRD THAT FLEW: 1975-1978
Em 1975, Dylan lança Blood On The Tracks, que, na minha opinião, é o seu melhor álbum – eu poderia facilmente colocá-lo inteiro na playlist. Para mim é o auge de Dylan como letrista, como cantor e, depois de suas experimentações desde o final dos anos de 1960, musicalmente. É nesse álbum também que Dylan consegue recriar totalmente sua persona, algo que acompanha sua obra desde o início. Ele veste uma “máscara” nos palcos, com tinta branca no rosto, chapéus com penas; ele já não é mais o “pai de família”, ou o rockstar, muito menos o cantor de protesto de anos atrás. Totalmente inspirado no fim de seu casamento com Sara, a maioria – senão todas – das canções são sobre dor e términos. Em entrevistas, Dylan disse que não entendeu como músicas tão tristes conseguiram fazer tanto sucesso. Talvez seja porque todos nós sentimos essas dores. É pelo sofrimento que temos mais facilidade em ter empatia e compartilhar com outras pessoas. Já ouvi dizer que “Blood On The Tracks” é inspirado em contos do Tchékhov, por cada canção possuir uma unidade em si, mas em conjunto todo o álbum possuir harmonia, como um livro de contos; e realmente faz sentido, já que as letras de “Tangled Up In Blue” e “Simple Twist Of Fate” contam histórias: a primeira é sobre duas pessoas que se constroem na ausência do outro e se encontram ao longo de um grande período de tempo, já a segunda é uma das músicas mais bonitas de Dylan, em que ele rememora o fim de seu antigo namoro com Suze Rotolo. “Idiot Wind” é talvez a canção mais autobiográfica e por isso a mais intensa. Escolhi a versão ao vivo, gravada durante a turnê Rolling Thunder Revue, porque ela é bem mais poderosa e intensa do que a gravada no álbum. Por mais que Dylan crie personas para a mídia, quando ele está em cima do palco e na frente de seu público, ele se torna vulnerável e verdadeiro. Suas performances dizem mais sobre ele do que entrevistas.
Se na capa de Blood On The Tracks o perfil de Dylan ainda era sua imagem clássica, de cabelos bagunçados e óculos escuros, em Desire (1976), os óculos saem e entra o chapéu com penas, lenços e muitas cores. O personagem criado no início da Rolling Thunder Revue, que se apresentava no palco com tinta branca na cara, aqui se aperfeiçoa e continua excursionando o mundo com a sua caravana cigana. Assim como o álbum anterior, poderia colocar Desire inteiro na playlist, porque as músicas se seguem em perfeita harmonia, todas com temáticas semelhantes, além do violino, que acompanha o álbum do começo ao fim. Em “Sara”, os temas de Blood On The Tracks ainda ecoam, no último clamor de Dylan para sua ex-esposa, desta vez sem metáforas, já que nomeia a canção.
No final da década de 1978, Dylan se permite algumas mudanças. Já havia acabado a Rolling Thunder Revue, e em Street Legal as tendências dos anos 80 começam a chegar. O álbum, perto dos dois anteriores, foi um fracasso, mas acho injusta essa recepção; Street Legal é sonoramente um ponto fora da curva na carreira de Dylan, como é possível ouvir em “Changing Of The Guards” e “Señor”, que usam e abusam de metais e backing vocals femininos contrastando muito bem com a sua voz cortante e estridente e nunca antes usados nas suas músicas. É com ritmos dançantes que Dylan termina a década de 1970 e antecede uma de suas fases mais controversas: a cristã.
WITH GOD ON HIS SIDE: 1979-1981
Contrariando todas as expectativas, Bob Dylan – antes Robert Zimmerman, nome tipicamente judeu – resolve se converter ao cristianismo. Não só isso, como também lança três álbuns com essa temática. Todo mundo sabe que Dylan possui muitas fases ao longo de sua carreira, mas talvez a mais inesperada seja essa, a gospel. Até porque, poucos anos depois, em 1983, Dylan e sua ex-esposa foram até Jerusalém para o bar mitzvah de seu filho mais velho. Não são todas as canções dessa fase que seguem o mesmo tema; enquanto “Gotta Serve Somebody” tende mais para o gospel, “Heart Of Mine”, lançada no terceiro da trilogia, é mais uma canção sobre o amor do que sobre religião, ou fé. Contradições à parte, os álbuns não foram tão bem recebidos quanto os anteriores, mas também não foram ignorados; por exemplo, Bono, vocalista do U2, fez uma declaração para a imprensa na época que Shot of Love (o terceiro da “trilogia cristã”) era um de seus álbuns favoritos.
DYLAN GONE WRONG: 1985-1993
Depois de superar sua relação com o cristianismo, Dylan retorna às raízes judaicas. No álbum seguinte, Infidels, há até canções sobre Israel e o judaísmo. “Jokerman” parece ter saído de Street Legal, e é também a canção de mais sucesso da época.
Os álbuns seguintes tiveram as piores recepções pela imprensa, crítica e público. Quase não venderam, a maioria das críticas foram negativas e até os shows de Dylan se esvaziaram. É quando Bob pensa seriamente em se aposentar, já que ele não consegue mais se conectar com seu público como antes.
Para remediar a crise, Dylan resolve retornar às suas raízes e lança álbuns inteiramente acústicos – os primeiros desde Another Side Of Bob Dylan, de 1964 – e com sonoridades próximas do folk, o primeiro gênero musical que ele acolheu e foi acolhido. “Delia” é dessa fase; a canção pertence à tradição folk e é sobre uma menina negra americana que foi assassinada aos 14 anos. Sua história inspirou muitas outras canções folk que se consagraram na tradição popular americana, como “Delia’s Gone”, atribuída a Blake Alphonso Higgs, e “Delia”, atribuída a Blind Willie McTell. É também nessa época, mais precisamente em 1988, durante o lançamento de “Down In The Groove” que Dylan dá início à turnê Never Ending Tour, que segue viajando o mundo até hoje.
Em 1989, Dylan lança o álbum Oh Mercy, que é finalmente bem recebido pela crítica e público (e por mim, já que é um dos meus álbuns favoritos). As letras são mais sombrias e pessimistas, talvez pela consciência de Dylan de sua própria mortalidade. Ele também volta a tocar acompanhado de uma banda, abrindo suas possibilidades sonoras. “Everything Is Broken” poderia ser muito mais sombria se não fosse a batida rápida, que a deixa quase dançante. Já em “Man In The Long Black Coat”, Dylan sussurra a letra, deixando a música ainda mais melancólica. Para “Shooting Star”, escolhi a versão do acústico MTV, gravado em 1995, por nenhum motivo especial, só porque prefiro as versões ao vivo às de estúdio.
THE NEVER ENDING BOB DYLAN: 1997-presente
Depois de ter passado a absurda ideia de se aposentar, Dylan inicia um dos mais importantes períodos de sua carreira. A má fase ficou para trás com o lançamento de Time Out Of Mind, que foi bem recebido, tanto pelo público quanto pela crítica. A canção “Love Sick” é desse álbum e se parece muito com trabalhos anteriores, como “Man In The Long Black Coat”. Os temas pessimistas continuam fortes nas músicas, lançando até especulações de que Dylan estaria doente e tirando inspirações na sua própria mortalidade.
Um dos álbuns mais bem-sucedidos de Dylan é Modern Times, lançado em 2006. O álbum dita a sonoridade de seus trabalhos seguintes, muito inspirados nos inícios do rock e em Buddy Holly, além de consolidar os membros de sua banda, que ainda seguem com a Never Ending Tour. A música “Thunder Of The Mountain” surpreendentemente homenageia Alicia Keys; e quando foi questionado sobre ela, ele disse: “There’s nothing about that girl I don’t like” (“Não há nada que eu não goste sobre essa garota”), depois de ter visto o show dela no Grammys.
Em 2012, marcando 50 anos de carreira, Dylan lança Tempest – que também está na minha lista de álbuns favoritos. Com sua carreira mais que consolidada, Dylan escreve músicas dos mais variados temas, de homenagens a John Lennon até uma canção de mais de 13 minutos sobre o naufrágio do Titanic. Uma das minhas preferidas é “Soon After Midnight”, que, diferente de muita coisa que Dylan fez nesses anos todos, é uma balada fofa.
Uma das coisas que mais gosto no Dylan – e que mais gosto em artistas em geral – é a sua capacidade de mudar, de experimentar coisas novas sem medo de ser julgado. Bob Dylan foi extremamente julgado ao longo dos anos: quando usou uma guitarra pela primeira vez, quando ele retornou ao folk, quando ele se converteu ao cristianismo, quando ele não conseguia mais fazer o sucesso que fazia. Ao mesmo tempo em que ele faz o que quer e parece não ligar muito para o que os outros dizem e pensam sobre ele, Dylan consegue manter uma linha harmônica por toda sua carreira. Mesmo nos momentos mais inesperados, para um ouvido acostumado, é fácil identificar uma música de Bob Dylan. Eu sei que parece contraditório que as duas coisas que mais gosto em Bob Dylan são a capacidade dele de mudar e a capacidade dele de permanecer o mesmo. Mas é bem isso, Dylan é mesmo essa metamorfose contraditória ambulante.
PARA MAIS DYLAN:
Apesar de ser a Maior Fã De Dylan™ e saber quase toda sua biografia de cor e salteado, tive que recorrer a outras fontes para conseguir escrever esse texto. E nada melhor do que ler trabalhos de outros fãs, não é mesmo?
No Direction Home: a vida e música de Bob Dylan, por Robert Shelton, publicado no Brasil pela editora Larousse.
O site Dylanesco é o site brasileiro mais informativo sobre Bob Dylan, além de ter crônicas e textos ótimos sobre suas músicas e álbuns.
Como veteraníssimo conhecedor de Dylan, entendo perfeitamente o que você quer dizer…É bom ver a tocha do vírus dylanesco passado para uma geração!Parabéns pelo texto!