Imagem de divulgação de The Bold Type: Kat, Jane e Sutton, fundo rosa choque e o nome da série.

The Bold Type é a nova série millennial que você deveria assistir

Todo novo começo de temporada eu “prometo” pra mim mesma que não vou me afundar em um mar de séries novas. O principal motivo é que, não importa quão ruim a série seja – ok, com algumas exceções – ou o tamanho atual da minha lista de séries, eu vou continuar assistindo até o final.. Na última midseason eu até consegui cumprir um pouco mais com isso, mas só porque eu não estava tendo tempo nem forças para assistir sequer às séries que já acompanho há tempos. O efeito colateral foi que, por muitas vezes, eu me senti de fora – enquanto todo mundo falava sobre This is Us, eu sequer sabia do que se tratava.

Agora, desempregada e procurando perspectiva para todas as mudanças que estão acontecendo na minha vida, decidi que era hora de dar chance às novas séries. De novo. E a verdade mais verdadeira foi que eu só comecei a assistir The Bold Type porque eu li uma matéria qualquer sobre um relacionamento romântico entre mulheres na série e decidi que era motivo suficiente para que eu pudesse incluí-la, sem dor na consciência, à minha lista de “coisas a serem assistidas”.

The Bold Type, da Freeform, antiga ABC Family, segue a linha inclusiva da emissora, além do foco em jovens adultos e adolescentes. Não à toa, uma das minhas emissoras preferidas para consumo de conteúdo dos EUA. E embora a série se passe em Nova York (desculpa, sou team west coast – LA para sempre), eu tenho conseguido amá-la da mesma forma.

GIF de Jane, Sutton e Kat pulando e comemorando.

 

Mas o que é The Bold Type?

O plot é simples: três amigas que trabalham juntas há quatro anos em uma revista de moda-cultura-comportamento-sexo voltada para mulheres (agora, reformulada com um viés “autofeminista”, como é dito em um dos episódios). Todas as três começaram como secretárias e, aos poucos, cada uma vai criando sua própria ascensão. No primeiro episódio, vemos o primeiro dia de Jane Sloan (Katie Stevens, ex-Faking it) como escritora/jornalista: sua empolgação, as publicações nas redes sociais e, claro, o medo de decepcionar a editora-chefe da revista, Jacqueline Carlyle.

Os cortes e tomadas da série, inicialmente, te levam a crer que Jacqueline é um tipo de Miranda Priestly: alguém impassível, arrogante e pouco preocupada com qualquer coisa que não tenha relação direta com ela. A apresentação é proposital. Estamos falando de protagonistas (e espectadores) millennials, a geração que é chamada e tratada constantemente como a mais mimada dos últimos tempos, então é de se esperar que a chefe da revista seja quem tem que pôr ordem na casa para que as coisas andem. Mas não é bem assim. Jacqueline é o meio do caminho entre a frieza de Priestly e o colo de uma amiga querida.

Em The Bold Type somos apresentados à importância da maturidade profissional, do respeito à hierarquia (mesmo que linearizada, como a que tem sido pregada tão amplamente em nossa geração), de saber a hora de parar e a hora de arriscar. Jacqueline, com seu vasto tempo no ramo, sabe como fazer uma equipe funcionar, sabe (como diz a Jane) que trabalha tanto com escritores que se arriscam, quanto com aqueles que gostam da segurança, e entende a importância disso para que tudo funcione conforme a necessidade.

 

Realidade e ficção colocadas à prova

Kat (Aisha Dee) mexendo no celular.

Os millennials e a geração Y são condenados por “não saberem” trabalhar, mas encontram situações conflitantes no mercado de trabalho: sejam empresas comandadas por outros de gerações parecidas, mas que, talvez por isso, não possuem a maturidade empresarial necessária para lidar com as questões e gerenciar equipes; sejam empresas engessadas que ainda trabalham com processos arcaicos e destoam do que é esperado por seus futuros funcionários. De uma forma ou de outra, o resultado é negativo – para empresa e empregado.

E aí temos o terceiro tipo: a empresa que se adaptou. Que aceitou as novas mídias, novas formas de trabalho, que entende as necessidades do funcionário – sem fazer com que ele acredite poder fazer o que quiser. São empresas com flexibilidade, mas sem a necessidade do anúncio de vaga engraçadinho que, na maioria das vezes, se torna falso por um motivo ou outro. É este é o caso da Scarlet, a revista onde tudo acontece.

 

Squad goals? Sim, por favor!

Jane, Sutton e Kat bebendo juntas no sofá.

Jane e seu squad, Kat (diretora de mídias sociais, interpretada por Aisha Dee, ex-Sweet/Vicious) e Sutton (Meghan Fahy, interpretando uma secretária galgando uma vaga no seu ramo de interesse, a moda), são millennials tal qual a mídia descreve: vivem nas redes sociais, têm problemas pessoais que são levados para dentro do ambiente de trabalho e estão tentando encontrar seu lugar no mundo, inclusive no mundo corporativo. No entanto, também carregam as características quase sempre esquecidas: são trabalhadoras, lutam pelo que querem e correm atrás do que precisam. Para elas, trabalhar não é um martírio ou um sacrifício. O trio não tem problema em ficar no escritório depois do horário, mas gosta de poder se encontrar no closet da revista para abrir uma garrafa de champagne e celebrar as conquistas uma das outras: ou seja, levar uma vida comum.

Se a revista se entitula “autofeminista”, em outras palavras, permite que cada uma crie seu próprio feminismo e “descubra o que dá prazer a si mesma”, a série também aproveita esse viés. Jane, Kat e Sutton são o squad que me deixa com vontade de me jogar no chão da sala, de pijama, dando risada com uma garrafa de rosé e minhas melhores amigas. Elas são a rede de suporte uma das outras, são a força quando um elo enfraquece e, principalmente, passam a mensagem de que mulheres, principalmente no ambiente de trabalho, não são (ou não deveriam ser) rivais e, sim, aliadas.

Veja bem: as três vêm de histórias muito diferentes (uma que cresceu sem figuras femininas em quem se espelhar, outra que teve de tudo do bom e do melhor e outra que teve que ser adulta antes mesmo de poder ser criança) e se conheceram por trabalharem na mesma empresa. Como secretárias, elas foram criando laços de amizade e aprendendo a torcer uma pelas outras. Kat, por exemplo, foi a que passou menos tempo no cargo e, mesmo tendo se tornado diretora de mídias sociais, não fez disso um motivo para pisar ou se distanciar das amigas. Ninguém é melhor do que ninguém.

Imagem de fundo rosa com o texto "Women empowering other women? Hell yeah, here for this."
Mulheres empoderando mulheres? Sim, por favor!

Kat, inclusive, é metade do motivo de eu ter começado a assistir à série. Logo de cara sua personalidade forte, combativa e questionadora disparou um alarme dentro de mim. Mas foi antes disso que a personagem me conquistou. Kat está, na narrativa, descobrindo que talvez as coisas não sejam preto no branco em sua vida, especificamente, sexual. O contato entre ela e Adeena, uma personagem importante de uma das matérias da revista, faz com que Kat comece a se questionar sobre sua heterossexualidade. E durante todo o processo ela conta com o apoio das amigas que chegam a brincar citando Katy Perry.

Já Jane tenta, o tempo todo, ser levada a sério. Ela quer escrever sobre assuntos importantes, cobrir pautas que – ela acredita – vão mudar o mundo. Porém, se vê presa à recorrer às suas próprias experiências e escrever artigos de “Como fazer”. Então, de novo e de novo, vemos Jane tentando, mesmo que à passos de formiga, sair um pouco mais da sua área pessoal, para desbravar o mundo.

A verdadeira hierarquia linear (ou: empresa de portas abertas)

Jacqueline, a editora chefe da revista, sabe quando se distanciar. Mas, mais do que isso, e bem mais importante, sabe quando é necessário intervir. Ela sabe quando é necessário chamar Jane para conversar sobre inseguranças ou quando fazer com que Kat se sinta melhor após tomar uma decisão muito difícil.

Jane e Jacqueline conversando no sofá.

Da mesma forma, Sutton, a “apenas” secretária, se “arma” e vai, com a ajuda das amigas, atrás do que realmente quer. Mesmo dando com a cara na porta, mesmo correndo riscos. Ela carrega pesos além do possível para provar que está apta a trabalhar com o editor de moda, embora não tenha experiência na área. E, mais do que isso, ela se impõe quando algo não está dentro do que deveria, porque ela sabe de suas capacidades, ela sabe que pode fazer por ele o que até hoje ninguém tinha conseguido fazer. Autoestima e confiança!

Sutton calçando sapatos.

The Bold Type foi a série certa, na hora certa, pelo motivo certo. É uma daquelas séries que vão te dar tapinhas nas costas, com carinho, mas também vão bater com uma luva de pelica (ou de boxe, dependendo da situação) no meio do seu queixo. É uma série sobre não desistir. Sobre confiar nas pessoas e, principalmente, em si mesmo. É uma série que deixa claro que não importa a sua idade, não importa o que você está passando, uma hora você vai conseguir encaixar as peças no lugar, mesmo que uma ou outra fiquem um pouco tortas.

 

Sutton dizendo "You're the best enabler a girl could ask for."

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