Eu gosto do grupo emo do Arizona

The Maine da esquerda para direita: Kennedy Brock (guitarra), Garrett Nickelsen (baixo), Jared Monaco (guitarra), John O’Callaghan (vocal) e Pat Kirch (bateria) | Fonte: https://www.themaineband.com/blog/2017/1/15/lovely-little-lonely

Em Dezembro de 2015, a revista Rolling Stone publicou uma matéria especial sobre a banda 5 Seconds of Summer que seria capa da edição de Janeiro de 2016. Não é preciso mencionar que os fãs da banda pop punk ficaram emocionados, mas, para um outro fandom, a entrevista com os cinco jovens também foi relevante.

Arizona emo group”. É assim que Patrick Doyle se refere ao The Maine em sua matéria, após Luke Hemmings (vocalista da 5 Seconds of Summer) mencionar que sua namorada, Arzaylea, chamou sua atenção ao mencionar que essa era a banda favorita dela.

O fandom do The Maine, que nunca perde tempo, logo começou a brincar com a expressão. Eu me lembro de ver a timeline tomada por tweets sobre “Arizona emo group” e, durante as semanas seguintes, a expressão se tornou quase que o novo nome da banda.

John e Jared fotografados pela fã Emma Henrie

Você deve estar pensando: o que a banda achou disso? Os meninos ficaram chateados? Ignoraram? Claro que não! Se tem alguém que sabe aproveitar as brincadeiras dos fãs e brincam junto, são os rapazes do The Maine!


Garrett Nickelsen (baixista) interagindo com Pat Kirch (baterista) no Twitter.


“Tive um ano incrível. Muito grato por ser parte do ‘Arizona emo group’” Jared Monaco (guitarrista).


“Só um ‘Arizona emo group’”, no Twitter oficial da banda.

Até merch os meninos fizeram!

Arizona Emo Group

Uma publicação compartilhada por The Maine (@themaineband) em

Eric “Halvo” Halvorsen, ex-baixista das bandas A Rocket to The Moon e Cobra Starship, além de amigo dos integrantes do The Maine e parte da gravadora 8123.

Esse é só um dos vários episódios de interação banda-fã que marcaram a história dos emos do Arizona. Por falar em história, vamos saber quando (já que onde vocês já sabem) e como essa começou.

A banda do Arizona

Da esquerda para direita: John O’Callaghan (vocal), Kennedy Brock (guitarra), Pa Kirch (bateria), Jared Monaco (guitarra) e Garrett Nickelsen (baixo).

The Maine começou em 2007 do jeito que as bandas começavam naquela época: divulgando suas músicas no MySpace. Desde o início, como eles explicam no texto “How we turned 1,000 fans into 100,000 by actually giving a shit” (Como realmente nos importar com os fãs multiplicou nossa fanbase por mil, em tradução livre), eles perceberam o quão importantes eram aquelas pessoas que os apoiavam e buscaram retribuir o que recebiam, passando horas conversando com os seguidores na rede social.

Esse comportamento de estar em contato com os fãs se manteve quando eles assinaram o primeiro contrato com a Fearless Records. Mesmo que a partir daí eles tenham encontrado multidões cada vez maiores, a banda ainda se disponibilizava a passar um tempo com os fãs e agradecê-los pelo suporte após os shows.

Em 2010, porém, ao assinarem com a Warner Bros. Records, um choque: a gravadora não concordava com os hábitos dos meninos e, ao seguirem o comportamento estipulado pela empresa, eles sentiram que estavam perdendo as pessoas que haviam conquistado nos primeiros anos de carreira.

Indo na contramão do que era esperado de uma banda de jovens garotos que acabaram de fechar um grande contrato, os meninos do Arizona decidiram gravar seu próximo álbum em segredo para então mostrá-lo para gravadora, em uma tentativa de voltarem a ser verdadeiros com eles mesmos e com seus fãs. Infelizmente naquele momento, mas felizmente para nós, a Warner não gostou nada do resultado.

The Maine então decidiu sair da gravadora e fundar a sua própria, a 8123, número que faz referência ao antigo estacionamento em que a banda costumava ensaiar no início da carreira. No fim de 2011, eles lançaram Pioneer, seu primeiro álbum independente, que deu início a uma nova era.

Por que você pagaria para conhecer um ser humano?

Após o Pioneer, ou, como eu gosto de chamar, o melhor álbum de todos os tempos, The Maine investiu cada vez mais na própria gravadora e no relacionamento com os fãs. Hoje, a 8123 é composta não apenas pela banda que a originou, mas também por Beach Weather, The Technicolors, John The Ghost (projeto paralelo de John O’Callaghan), The Bambinos, Eagles in Drag, This Century e o cantor Nick Santino.

O empenho do The Maine para interagir com os fãs pôde ser constatado diversas vezes, como na gravação do primeiro DVD da banda, Anthem For a Dying Breed, durante a The Pioneer World Tour em São Paulo; na turnê Free for All em 2015, em que a banda fez shows pelos Estados Unidos totalmente de graça para seus fãs; e nas apresentações durante a Warped Tour de 2016, com a campanha “Why would you pay money to meet a human being?” (Por que você pagaria para conhecer um ser humano?) em que os integrantes da banda faziam o seu tradicional meet & greet gratuito e aproveitavam os intervalos entre shows e meets para andar pelo festival, conhecer novas pessoas e anunciar os horários das próximas apresentações.

Esse ano, para comemorar o aniversário de 10 anos de banda, The Maine organizou a 8123 Fest, que reuniu as bandas da empresa e outros convidados. O festival foi um sucesso e mais uma oportunidade para que os fãs e as bandas pudessem interagir entre si e compartilhar as experiências.

The Maine na 8123 Fest (foto por Lupe Bustos)

Também esse ano, a banda lançou seu quarto álbum independente, o Lovely, Little, Lonely. Para a divulgação do CD, eles contaram e ainda contam com a ajuda dos próprios fãs. Com a campanha #WeAre8123, eles incentivam os fãs a ajudarem com a promoção das músicas – seja as pedindo nas rádios ou vendendo os CDs efetivamente – e oferecem prêmios para aqueles que obtiverem mais resultados, como, por exemplo, ingressos vitalícios para shows ao redor do mundo, shows privados, composições exclusivas e muito mais. Além disso, uma edição limitada do novo álbum foi lançada creditando os fãs (nome por nome!) pelas músicas num encarte especial.

E não vamos nos esquecer de quando eles telefonaram para os fãs que compraram o CD na pré-venda – um comportamento já recorrente de outros lançamentos – e ainda visitaram alguns em suas casas para fazer um show particular.

Como a estudante de Comunicação que sou, não posso deixar de pensar no The Maine como um exemplo perfeito de Marketing voltado para o consumidor. Como fã, sei que vai muito além disso.

8123 means everything to me

Eu (ainda) não tive a oportunidade de conhecê-los pessoalmente. Nossas interações se limitam a algumas mensagens e tweets trocados que eu guardo com muito amor. Porém, alguns fãs aceitaram conversar sobre suas experiências de quando encontraram pessoalmente com a banda.

Em 2014, a Bárbara Rossi, de BH, teve a chance de comparecer a um dos shows da turnê do The Maine no Brasil um dia antes de seu aniversário. Durante o meet & greet gratuito que eles realizaram antes do show, ela contou para Jared, um dos guitarristas da banda, que era seu aniversário e recebeu um “happy birthday” carinhoso como resposta; “nem preciso dizer que eu ganhei meu aniversário com isso, né” ela comenta. Seu 2015 contou com mais um momento emocionante (e fofo!) que captura bem a essência do grupo:

“Eu fui pro Rio para ir ao show deles, e eu e minha melhor amiga fomos stalkear no hotel. A gente chegou lá e esperou eles por, no máximo, quinze minutos.. Depois de chegarem, eles simplesmente ficaram uma hora e meia do lado de fora conversando com todo mundo! Eu estava nervosa, mas fiquei muito mais a vontade perto deles do que eu achei que ficaria. Quando fui falar com o Kennedy, eu esqueci o que ia dizer, me deu branco. Aí eu olhei pras pessoas que estavam em volta e falei ‘eu não sei o que mais falar , e todo mundo riu. Kennedy olhou pra mim e falou em português ‘fala em português’. Ele pedia pra falar com ele em português pra ele e pedia tradução quando não entendia, era a coisa mais fofa do mundo!”

A atenção da banda aos fãs vai além de tentar facilitar a comunicação ao máximo: eles também entram em brincadeiras e fazem questão de referenciar essas interações depois. “Eu e minha melhor amiga tivemos a ideia de ensinar a eles a dancinha da Jout Jout. Eu cheguei para o Kennedy e perguntei se a gente podia ensinar, se ele topava e tal, e ele disse sim. Minha melhor amiga ensinou, eu filmei, e ele fez direitinho! Depois foi a vez do John, e eu e minha amiga trocamos de papel. Aí no final ele virou pra mim e falou “vou fazer isso amanhã no show”, só que eu não levei a sério. Nunca achei que ele fosse lembrar..” Bárbara relata. “No dia seguinte foi o show. A gente foi ao meeting e o Kennedy e o John lembraram da nossa conversa no hotel e falaram com a gente. No meio do show, o John parou do lado do palco em que nós estávamos, apontou pra gente E FEZ A DANCINHA DA JOUT JOUT! Aí o Kennedy fez junto na hora!”.

A Giuliana Neves, de Manaus, é outra fã que tem várias experiências positivas para compartilhar. Dentre suas diversas relíquias (palhetas, ingressos, setlists, autógrafos, poemas, dedicatórias…) ela conta a história de como conseguiu seu pôster, que foi autografado de uma forma bem peculiar:

Imagem: Acervo pessoal -Giuliana Neves

“Eu já estava acompanhando a tour deles na europa e o show da Itália era o meu último. Eles fizeram sessões de autógrafo em quase todas as cidades, mas eu não fui em nenhum, por diversas complicações de viagem: ou eu tinha que encontrar o hostel que iria ficar, ou ele era muito longe da casa de show e eu não queria arriscar. Porém em Milão eu tenho família, então pedi encarecidamente que meu primo levasse eu e minhas amigas à sessão de autógrafos! Era numa loja de esporte no centro de Milão, e quando chegamos lá, a fila estava bem grande. Quando entramos, eu resolvi fazer uma brincadeira com eles, porque acho que eles já estavam enjoados da nossa cara, já que também fomos ao show de Barcelona no dia anterior. Eu já cheguei na maior falando ‘oi, tudo bem?! Então, eu estava passando aqui na frente, vi essa fila e resolvi entrar, vocês são famosos?’ e já fui logo falando meu nome e me apresentando! Pat e Jared foram amorzinhos e super educados, já Kenny, Garry e John foram zueiros e inclusive assinaram com esses nomes que aparecem aí no poster!”

“No dia anterior, eu e minha amiga compramos umas lembrancinhas para eles e só conseguimos entregar para o Pat, Jared e Garry porque as fãs espanholas se aglomeraram em torno do Kenny e do John e não nos deixaram chegar perto deles. Quando eles nos viram nesse signing, começaram a fazer drama, dizendo que se sentiam deixados de lado porque nós não tinhamos dado os presentes deles. Aí nós entregamos e eles ficaram felizes na hora! Eles ainda ficaram preocupados com o tempo que nós estávamos passando no frio, esperando as casas de show abrirem. Depois desse show em Milão, eles foram falar com os fãs como sempre, e escreveram coisas pra mim que até hoje fazem com que eu me sinta super especial para todos eles (mesmo que por um breve momento). E John só saiu do nosso lado quando meu primo chegou pra nos buscar”.

Como já foi dito anteriormente, The Maine não cobra pelos meetings que realiza, porém, no Brasil, por conta do nosso espírito “animado”, a produtora que os traz prefere limitar o acesso dos aos 400 primeiros que comprarem os ingressos. Mas a própria banda gosta de burlar essas regras, como conta o Higor Franco, de Sorocaba: “Quando eu fui ao meu primeiro show deles, em Porto Alegre, comprei muito em cima da hora e não tinha mais meet. Até aí, tudo bem, mas o legal (mesmo eu ainda não tendo visto eles) foi que eles receberam todos, inclusive os que não tinham comprado meet, então todo mundo conseguiu vê-los e tirar fotos”.

A banda volta ao Brasil pela quinta vez em Julho deste ano e, pela primeira vez, eu vou. Espero ter experiências tão incríveis quanto essas para guardar na memória e compartilhar com outros fãs.


Um dos hinos antigos da banda, We All Roll Along que conta com a frase que toca todos os fãs: 8123 means everything to me.

The Maine não está brincando quando diz que a 8123 é muito mais do que um número qualquer ou uma empresa. Com tanta empatia e simpatia, a banda não só se uniu aos seus fãs, mas fez com que nós nos uníssemos e constituíssemos algo grandioso.

Como a própria banda diz no título de seu texto, eles estão apenas “dando a mínima”, um comportamento infelizmente raro no show business. Talvez não seja nada demais para quem vê de fora, mas para nós, fãs, significa tudo. Nos sentimos valorizados, apoiados, amparados e especiais. Como é dito frequentemente no fandom, “ainda bem que sou fã de The Maine” e sei que faço a diferença na vida deles, assim como eles fazem na minha.

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