Reagindo a… Buffy, the Vampire Slayer – S1: Eu quero viver

Não lembro se houve um momento específico em que fui apresentada a Buffy Summers. Acho que é porque ela sempre esteve lá: na timeline do Twitter, em posts do Facebook, em comentários de amigos e conhecidos. Vi o nome dela muitas vezes acompanhado pelas palavras “dor” e “desespero”, mas mesmo isso não foi o bastante para me atrair imediatamente para a série que prometia, segundo os milhares de tweets, uma boa dose de fangirling, sofrimento e amor. Precisei de um empurrãozinho chamado fim de semestre e uma lista com onze trabalhos para entregar para finalmente me render e conhecer quem era essa garota com uma estaca.

E… AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Não tô bem, não tô nada bem.

Buffy, The Vampire Slayer conta a história de Buffy (Sarah Michelle Gellar), uma garota de 16 anos que acaba de mudar para Sunnydale com a mãe. Essa não é uma simples mudança: na verdade, Buffy colocou fogo no ginásio da antiga escola e foi expulsa, seus pais se separam, e agora ela e a mãe estão recomeçando em outro lugar. Mas Buffy não queimou o ginásio por ser uma garota rebelde, e sim por estar lutando contra vampiros. Pois é. Ela é uma caçadora, A Escolhida, a única que pode lutar contra as forças do mal… Porém, ela não está muito a fim. Só que Sunnydale fica localizada na Boca do Inferno, uma convergência mística que faz com que todo tipo de demônio e seres do mal surjam lá pra incomodar a paz da humanidade, e Buffy precisa lidar com esses monstros.

Na mitologia da série, há gerações existe uma Escolhida, que caça vampiros e demônios até morrer, quando a caçadora seguinte é ativada. Assim mesmo, sem férias nem aposentadoria. Os vampiros são seres demoníacos, apenas a casca de uma pessoa que existiu antes e que agora não passa de alguém sem alma, portanto são maus. Há ainda o Sentinela, um tipo de treinador que deve preparar a Caçadora para os confrontos. É nesse ambiente que conhecemos outros personagens além de Buffy: Angel (David Boreanaz) é um vampiro amaldiçoado a ter uma alma, o que o faz sofrer por tudo de errado que fez quando não a tinha. Ele surge de vez em quando para avisar Buffy que o mundo está prestes a acabar e se torna uma presença constante na vida da caçadora. Willow (Alyson Hannigan) é uma nerd que adora computadores e não é nada popular. Xander (Nicholas Brendon) é o melhor amigo de Willow e faz papel do típico bobão que se apaixona por qualquer garota bonita. Rupert Giles (Anthony Stewart Head) é um bibliotecário inglês, expert nas forças do mal e Sentinela de Buffy. Ainda há espaço para a personagem patricinha e fútil: Cordelia (Charisma Carpenter) é a queen C. da escola e gasta boa parte do seu tempo zombando dos alunos não populares e se preocupando com o próprio cabelo. Juntos, todos esses personagens se tornam parte da vida de Buffy e a ajudam a salvar o mundo.

Ainda que seja uma série lançada em 1997 (!), eu sabia pouco — ou nada — sobre o enredo, o que tornou tudo ainda mais divertido. Cada monstro que surgia, cada interação entre os personagens, cada vez que eles ficavam tentando usar um computador (!!) me  fazia dar pulinhos com o notebook no colo. Nem mesmo os efeitos típicos dos anos noventa (péssimas maquiagens, socorro) foi capaz de acabar com minha animação enquanto eu avançava no mundo de Sunnydale, onde coisas bizarras acontecem.

Buffy dizendo "If the apocalypse comes, beep me"
Se o apocalipse chegar, me bipa.

Cuidado: spoilers sobre a primeira temporada a seguir!

Ah, fala sério, que série é essa?? Qual o segredo por trás dela?? Por que demorei tanto pra ver?? Soltei tantos suspiros quanto tweets enquanto assistia e foi tão, tão, tão bom. Há muito tempo uma história não me prendia do jeito que Buffy, The Vampire Slayer me prendeu, aquela fissura em que tudo fica de lado para que eu possa assistir só mais um episódio. Alguns dos  episódios são meio bobos, como o que a professora pela qual o Xander está atraído é na verdade um louva-deus gigante, mas outros me fizeram chorar, como Nightmares, em que um menino em coma traz o mundo dos pesadelos sem querer para o mundo real. Temos acesso aos piores sonhos e medos dos personagens, e vemos o íntimo de muitos ali: Giles tem pesadelos com a morte de Buffy, que por sua vez tem pesadelos com se tornar uma vampira. Os medos variam, a cidade está um caos, e Cordelia está com os cabelos totalmente bagunçados — pois esse é o tipo de medo que ela tem.

Por falar em Cordelia, o tanto de vezes que batem na tecla que ela é uma menina vazia e fútil, e apenas isso, me incomoda um pouco, mas fazendo um recorte para a época em que a série foi lançada, faz até que bastante sentido. Meninas loiras constantemente ocupam dois lugares em produções audiovisuais: a menina vaca, que só existe para fazer uma competição estúpida com a protagonista, ou aquela delicada e gentil que vai morrer nos próximos cinco minutos de filme, no caso das histórias de terror. Ao colocar uma atriz loira, baixinha e magrinha como a lutadora badass, temos a quebra de um estereótipo que era forte na década de noventa (e continua forte na cultura pop atual, infelizmente). Assim, sobrou para Cordy e seus cabelos castanhos o papel de quem só pensa em si, um estereótipo bem chato e sem graça, mas que Cordelia executa com tanta maestria que é impossível não gostar dela ou torcer por mais participações. Se há algo que eu espero para a segunda temporada, esse algo atende por Cordelia Chase.

Buffy é o que pode ser chamada de “personagem feminina forte”: fisicamente superior aos humanos comuns por ser uma caçadora, ela chuta bundas, mata vampiros e protege as pessoas. Ela é sempre o centro das lutas, quem bate, apanha e arrasta amigos machucados para longe de cenários que estão desmoronando. Mas Buffy vai além do padrão de “personagem feminina forte”: mais que força física, ela tem uma personalidade marcante que transparece nos diálogos ágeis, no seu desejo de ser uma adolescente comum — que pode pensar em bailes, garotos e esmaltes — e em todas as vezes que leva bronca da mãe por estar matando aula. Uma característica não anula a outra, o que a torna uma personagem completa, que ama e odeia; que sente. E nesse sentir entra também o interesse por Angel: cresce aos poucos, devagar, exatamente como acontece na vida. Um passo de cada vez, com proximidade e companheirismo natural e sem forçar a barra. Ele auxilia a Buffy, mas em momento algum toma o protagonismo dela ou tenta ser superior. É um relacionamento doce, gentil e terno, um que Buffy sabe que nem deveria existir, já que Angel é um vampiro e ela uma caçadora, mas existe mesmo assim, e se torna uma soma à Buffy, um complemento para alguém que já é completa.

Essa força da personagem é explorada ainda mais no último episódio, intitulado Prophecy Girl: Giles descobre uma profecia que diz que Buffy vai morrer para a ascensão do antagonista. A menina, ao ouvir isso e saber que sua função é impedir o Mestre, o antagonista da temporada, a chegar ao mundo humano, diz algo que me fez chorar bastante:

Buffy dizendo "I don't want to die".
“I don’t care! I don’t care. Giles, I’m sixteen years old. I don’t wanna die.” / “Eu não me importo! Não ligo. Giles, eu tenho dezesseis anos. Não quero morrer.”

 

E, ainda assim, mesmo após ir embora, após contemplar seu quarto, sua cama, sua vida, Buffy resolve cumprir seu destino. Em um sequência triste, em que ela vai até o Mestre e é morta por ele (!!!), eu só sabia chorar e lamentar no Twitter. Não que eu não esteja acostumada com a morte de personagens — na verdade, quando eles não morrem é que fico surpresa —, porém teve um peso bem diferente: Buffy não queria morrer. Ela sabia que iria acontecer, mas ela não estava feliz e satisfeita com isso, e ela ter ido da mesma forma — porque ela é uma caçadora, porque esse é seu destino, porque a profecia dizia que iria acontecer assim — tornou tudo um verdadeiro sacrifício, não foi uma morte vã. E pela força da própria profecia, ela acordou a tempo de matar o Mestre e seus discípulos, e por fim salvar o mundo. Ah, aí eu chorei ainda mais, numa mistura de alívio (Buffy voltooooou) com desespero (mddc que tipo de trauma isso vai causar nela?).

Da esquerda para Direita, Xander, Buffy, Willow e Giles.
Amém, Scooby Gang.

Assistir a Buffy em um período tão cheio quanto o fim de semestre foi a pior-melhor escolha que eu fiz este ano. Se por um lado estou deixando de estudar para ver só mais um episódio, por outro a série está ajudando a me manter focada e ciente das coisas que eu quero e de que, às vezes, a gente precisa fazer sacrifícios para que tudo fique em harmonia. Em doze episódios nós acompanhamos uma Buffy que vai amadurecendo um pouco a cada dia: ela não quer mais ser a caçadora quando chega em Sunnydale, mas precisa pois é a única capaz de salvar o mundo. Com os amigos, ela enfrenta novas criaturas e estuda, faz provas, leva bronca da mãe por chegar em casa tarde ou matar aula. O tempo todo, seus dois mundos — ser caça-vampiros de um lado e ser uma adolescente de 16 anos do outro — oscilam, ameaçam se encontrar, e isso me mostrou que por mais que se tente ter ordem, a vida é assim mesmo: uma bagunça caótica. Já não tenho mais 16 anos, mas ainda quero viver, e não só no sentido literal da palavra. Eu quero arriscar, ver o mundo, fazer coisas que ainda não fiz, e essa primeira temporada de Buffy me lembrou o quanto quero tudo isso.

 

Episódios favoritos: 3 – The Witch; 7 – Angel; 10 – Nightmares; 12 – Prophecy Girl.

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