Sherlock Holmes 101: Para você que queria conhecer Sherlock Holmes e não sabia por onde começar

Não sei dizer quando primeiro ouvi falar sobre Sherlock Holmes. Acho que é aquele tipo de coisa que um dia você percebe que conhece, mas não sabe de onde veio. Sempre gostei de histórias de detetive e mistério e minha mãe também é super fã do gênero, então incentivo não faltou. Cada um tem um motivo para se interessar pelas histórias, mas acho que sempre me pareceu interessante um personagem inteligente, veloz e que sempre sabia o que fazer em todas as situações. Talvez eu seja um pouco como John Watson, sempre admirada com as coisas incríveis que Sherlock Holmes consegue fazer.

Holmes é um personagem que pode parecer um pouco antipático no começo. Ele é super inteligente, observador e tem uma capacidade incrível para a dedução mas, apesar de ajudar várias pessoas em apuros, seu modo de lidar com elas não é dos melhores. O contraponto aparece com John Watson, o ex-médico do exército que mora durante boa parte do cânone no apartamento da Rua Baker Street, 221B com Sherlock. Muita gente pode pensar que ele é um personagem insosso ou desnecessário, mas ele não só possui suas próprias habilidades (seu conhecimento médico e sua grande habilidade no trato com as pessoas, por exemplo) como também faz com que o detetive parece mais humano e é através de sua observação e suas interações com ele que conhecemos melhor o detetive, afinal, ele é o narrador da maioria das histórias. Juntos, eles resolvem crimes que ninguém consegue resolver e intrigam pessoas desde 1887.

Holmes e Watson estão muito em voga ultimamente, por conta das várias adaptações recentes: Sherlock, Elementary, os filmes com Robert Downey Jr. e Jude Law e o menos conhecido, mas maravilhoso, Sr. Holmes, com Ian McKellen. Eles estão tão embrenhados na cultura popular que às vezes é até difícil ficar por dentro de todas as referências.

Como boa sherlockiana, escrevi este guia para ajudar aqueles que querem conhecer mais sobre esse universo e não sabem por onde começar, nem o que é mais legal – e o que não é tanto.

 

O CÂNONE AKA SIR ARTHUR CONAN DOYLE NÃO SABIA NO QUE ESTAVA SE METENDO

Criado por Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes teve sua primeira aparição em 1887 no romance O estudo em vermelho (A Study in Scarlet). Depois disso, apareceu em três outros romances e 56 contos até 1927 – foi uma febre! É engraçado e talvez até absurdo hoje em dia, mas muitas pessoas chegaram a acreditar que Sherlock Holmes de fato existia e mandavam cartas ao autor na esperança de obter ajuda para seus problemas.

A princípio pode parecer que Conan Doyle deveria achar ótimo toda essa popularidade de seu personagem, mas ele não compartilhava do entusiasmo de seus fãs. Ele achava que esse era um trabalho menor, que roubava tempo que podia ser usado em “trabalhos mais importantes” (suas outras obras incluem também romances históricos e uma série de histórias envolvendo um personagem chamado Professor Challenger, um cientista que, entre outras coisas, aparece no romance O mundo perdido, de 1912). Ele chegou a aumentar o preço de suas histórias a uma quantia proibitiva, mas a popularidade de Holmes era tão grande que isso não deteve seus editores.

Doyle decidiu, então, matar seu próprio personagem, na tentativa de se ver livre dele. Em seu conto de 1983 “O problema final” (“The final problem”), Doyle introduz o nêmesis de Holmes, o Professor Moriarty, matemático que comanda o crime organizado, criado justamente com o fim de liquidar com o detetive e nunca antes citado.

O conto foi recebido com uma enorme comoção, com pessoas chegando a usar faixas pretas nas mangas de suas roupas, sinal usado na época para demonstrar luto. Em 1901, Sir Arthur finalmente cedeu, publicando um dos meus romances favoritos da série, O cão dos Baskervilles (The Hound of the Baskervilles). Como a história se passa em um período anterior à queda, e como havia decidido voltar a escrever sobre o tema, em 1903, o autor publica A aventura da casa vazia (The Adventure of the Empty House), em que Sherlock Holmes retorna a Londres e explica as circunstâncias de sua suposta morte e de sua ausência, retomando assim o fio da meada e permitindo que as histórias continuassem até 1927.

O que eu recomendo:

Na verdade minha recomendação é ler todas as histórias. Mesmo aquelas mais fracas merecem ser lidas (sim, estou me referindo ao truquezinho do Sir Arthur em “O problema final”), mas tudo bem, reconheço que não é todo mundo que tem a mesma disposição para ler tudo. Recomendo, então, o que eu acho mais legal, mas se essas interessaram, as outras devem interessar também.

Um romance: O cão dos Baskervilles.

Talvez você não saiba, mas é uma opinião quase unânime entre os fãs de que Conan Doyle era melhor contista do que romancista. Não que seus romances sejam ruins, de modo algum, mas seus contos são mais bem acabados e concisos que suas histórias mais longas. Mesmo assim, O cão dos Baskervilles é muito bom e tem muitos aspectos interessantes. Não vou contar muito para não estragar (apesar de que quanto spoiler você pode dar de uma história que começou a ser publicada em 1901?), mas vale a leitura.

Cinco contos:

“A aventura das faias cor de cobre” (“The Adventure of the Copper Beeches”)

“A aventura dos dançarinos”) (“The Adventure of the Dancing Men”)

“A aventura do carbúnculo azul” (“The Adventure of the Blue Carbuncle”)

“A aventura de Charles Augustus Milverton” (“The Adventure of Charles Augustus Milverton”)

“A aventura do detetive moribundo” (“The Adventure of the Dying Detective”)

 

ADAPTAÇÕES PARA TV AKA JUNTE DOIS VÍCIOS EM UM: SHERLOCK HOLMES E SÉRIES

Existem várias opções para os que, como eu, adoram séries. Muita gente deve conhecer a série da BBC, Sherlock, que mesmo com seus problemas é muito bem feita e repleta de referências às histórias originais. Apesar de se passar na Londres do século XXI, é muito próxima ao cânone. O problema, velho conhecido dos que a acompanham, é que a série só tem três episódios por temporada (pelo menos são de 90 minutos) e costuma demorar dois anos para lançar novos episódios (não, não é exagero, infelizmente).

Mais ou menos na mesma época em que Sherlock foi lançada, também surgiu Elementary. Ela é uma adaptação mais livre, pois, além de também se passar no século XXI, é em Nova York, mas ainda assim é legal e a Lucy Liu como Joan Watson é um dos pontos altos: é diferente, mas não decepciona; ela é uma ótima Watson, melhor do que Johnny Lee Miller como Sherlock.

Caso a sua praia seja uma série mais próxima aos livros, com o cenário e o vestuário vitoriano, recomendo assistir à série britânica de 1984, conhecida como Granada Series. Ela é ótima e muito próxima do cânone, além de ter um Sherlock Holmes fantástico feito por Jeremy Brett, que é exatamente como o Holmes da minha imaginação.

Além disso, há uma série russa de 1979, que também se passa na era vitoriana e é um retrato um pouco diferente. Achei divertido ver o pouco que vi, mas ainda preciso vê-la inteira para dar uma opinião mais informada.

Deve ter várias outras séries que ainda não tive tempo de ver ou oportunidade de conhecer, sem contar as adaptações mais livres que existem também, como House M.D. Se você prestar atenção na série médica, vai encontrar um monte de referências, muito além da relação entre House e Wilson (bem semelhante a Holmes e Watson, mas com um Holmes muito mais amargo), como, por exemplo, o endereço da casa de House: Rua Baker Street, 221B, o mesmo de Sherlock Holmes no cânone.

 

ADAPTAÇÕES PARA O CINEMA AKA HOLMES REIMAGINADO EM DIVERSAS FORMAS

Aqui existem várias, muitas mesmo, das quais vi muito poucas ou quase nada. Mesmo assim, sei que não sou a maior fã dos filmes que Guy Ritchie dirigiu sobre Sherlock Holmes. São Sherlock Holmes (2009) e Sherlock Holmes: O jogo de sombras (Sherlock Holmes: A Game of Shadows, 2011), com Robert Downey Jr. e Jude Law. Os filmes são divertidos e certamente recomendo para os fãs que preferem uma história mais movimentada, com mais ação, mas, como prefiro as partes de dedução às cenas de perseguição, esse não é bem o filme pra mim.

Tenho ainda duas recomendações mais inesperadas:

A primeira é Sherlock e eu (Without a Clue, 1988), uma adaptação diferente. Nela, o verdadeiro detetive é John Watson e Sherlock Holmes é um personagem criado pelo médico e interpretado por um ator contratado por ele. Como podem imaginar, é uma comédia – e é bastante divertida.

A segunda é uma animação não tão conhecida da Disney: O ratinho detetive (The Great Mouse Detective, 1986), em que o ratinho Basil de Baker Street é contratado para investigar um desaparecimento. Como a maior parte dos filmes da Disney, é leve – afinal, mostra os personagens canônicos em forma de ratinhos.

 

ADAPTAÇÕES EM LIVROS AKA SEMPRE EXISTEM MAIS COISAS PARA LER

Até hoje só li um livro baseado diretamente em Sherlock Holmes: A slight trick of the mind (2005), escrito por Mitch Cullin. Ele conta a história de um Sherlock Holmes muito velhinho e aposentado em uma casa em Surrey, onde cria abelhas. Sua memória está falhando e ele tenta contar histórias do seu passado para o filho de sua empregada. É difícil descrever como esse livro é delicado e bonito, mas recomendo fortemente, assim como sua adaptação para o cinema, Mr. Holmes (2013), com Sir. Ian McKellen, que está ótimo no papel de Holmes.

 

E UM PODCAST AKA UMA OPÇÃO PARA NUNCA TER UMA CRISE DE ABSTINÊNCIA

Caso nada disso seja o bastante – ou caso já conheçam tudo isso e quiserem se manter atualizados no que há de novo no universo sherlockiano –, recomendo The Baker Street Babes, um podcast feito só por mulheres com análises, resenhas de todo tipo de produto, entrevistas com autores, atores, produtores, roteiristas, enfim, uma quantidade enorme de material novo para quem precisar de uma nova dose de Sherlock Holmes. Infelizmente, só para quem entende bem inglês.

Existe um mundo todo relacionado a Sherlock Holmes por aí e eu espero ter sido de alguma ajuda para navegar por esse universo gigante e muito interessante. Tem muita coisa que preciso descobrir, outras que já ouvi falar mas ainda não investiguei, mas espero ter despertado o interesse de alguns e ter criado potenciais novos sherlockianos. Quem sabe, da próxima vez talvez eu receba recomendações de vocês.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *